No Laboratório

Na penumbra da sala povoada de estiradores e de computadores, definia-se a pose do modelo contra a brancura da parede, permitindo que os vários gestos que o cercavam o fixassem em delineações mediadas pelo propósito e pela linguagem de cada intérprete. Os perfis organizavam-se sempre nas fronteiras do suporte, forçando os limites do tempo.

Seguiam-se os longos silêncios indicadores de esforço e de concentração, onde apenas se ouvia a marcha dos lápis, o trepidar dos estiradores e o ruído dos ratos e dos teclados. A maneira de entender a anatomia humana, tão perfeita quanto incompleta, fazia sentir intensamente as potencialidades das morfologias expressas na natureza das superfícies musculares dos modelos.

Foram assim as sextas-feiras de manhã, ao longo daquelas semanas, nas práticas de laboratório em que as regras do tempo e do acto de desenhar faziam parte incontornável da criação. A morfologia nunca estava terminada, tinha sempre mais desenvolvimento naquela inserção muscular ou no apontamento daquela estrutura óssea, que permitia delinear um outro complemento de anatomia.

A nova pose de trinta minutos tinha início com os mesmos gestos, num ritual já decalcado em procedimentos, mas sempre novo em abordagem.

 

JC.